Em comunicado oficial na sexta-feira última, a Secretária de Estado da Igualdade, Isabel Rodrigues, apela aos órgãos de comunicação social “que todas as notícias difundidas sobre violência sexual sejam acompanhadas da divulgação de contactos de associações de apoio especializado às vítimas de violência sexual”.
O gabinete da secretária afirma que o pedido se justifica “tendo em conta o impacto que as notícias recentes sobre abusos sexuais de crianças têm nas vítimas desta forma de abuso”.
Segundo Isabel Rodrigues, “Os relatos sobre abusos confrontam as vítimas de violência sexual com as suas próprias histórias de abuso, desencadeando altos níveis de ansiedade e angústia e situações de crise”.
Esta manifestação governamental ocorre um dia depois do alerta emitido por de uma uma importante entidade representativa, veiculado na quinta-feira e amplamente divulgado pela mídia, do qual destacamos abaixo alguns trachos.
A associação Quebrar o Silêncio registou, esta semana, um aumento dos pedidos de apoio relacionados com os casos de abuso sexual no contexto da igreja. Ângelo Fernandes, fundador da associação, enfatiza que “São homens que foram vítimas de violência sexual na infância e que não conseguem ter um momento de paz, pois são constantemente confrontados com notícias de abuso sexual. Para estas vítimas é um constante reviver das suas próprias histórias”.
“A maioria das vítimas não partilha a sua história de abuso por vergonha, por medo da reação das outras pessoas, entre muitos outros motivos, e nestes momentos mediáticos acabam por gerir tudo isto em segredo. Do nosso ponto de vista, é importante que as notícias incluam, em nota de rodapé, os contactos das associações de apoio especializado para vítimas de violência sexual. A inclusão destes contactos, como se faz com temas como o suicídio, é fundamental para que as vítimas, que desconhecem estas respostas, tenham oportunidade de dar o primeiro passo para procurarem ajuda, quando se sentirem preparadas.”
“Esta semana começou com a publicação do relatório pela Comissão Independente. Após um ano de trabalho, foram desocultadas 4815 vítimas de violência sexual no contexto da igreja desde 1950.
Os abusos sexuais têm uma dimensão sistémica, mas o silenciamento dos casos na igreja e a proteção dos abusadores foi estrutural. Como consequência, acreditamos que as medidas e respostas terão de romper com a cultura de ocultação e de autoproteção que se instalou na igreja. Os crimes têm de ser denunciados sem reservas, demoras ou questionamentos; os abusadores têm de ser investigados pelas autoridades policiais competentes e julgados conforme a lei portuguesa.”
Desde que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal divulgou publicamente, na segunda-feira, o seu relatório final, cinco vítimas contactaram a associação, todas relacionadas com os abusos sexuais na Igreja.
O relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja recebeu 512 testemunhos validados, o que permitiu a extrapolação para a existência de quase cinco mil vítimas, tendo sido enviados 25 casos para Ministério Público. A comissão investigou casos de 1950 a 2022, nos quais 48% das vítimas falaram pela primeira vez. Sabe-se que Mais de 90% dos agressores são homens. Alguns deles continuam agindo impunemente.
