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Questão de escolha

Por José Carlos de Sousa *

Pensadores e filósofos pontuam que destino não é uma questão de sorte e sim de escolha. Não é algo a se esperar, mas a se conquistar. Enfatizam a necessidade de fazer escolhas para a construção do destino e o direito, inalienável, do ser humano à liberdade da autodeterminação.

É isso mesmo. A vida não é um jogo de dados em que as pessoas têm seus destinos forjados por combinações fortuitas nem elas são marionetes atadas aos cordéis de um titereiro pândego.

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A vida é sempre uma combinação de atitudes e comportamentos, ações e inações, lutas e fugas, construções e destruições, risos e lágrimas, fé e dor, além de elevadas e desnecessárias doses de egoísmo, violência e cinismo, mas tudo permeado por muita esperança.

        Essa amálgama é resultado do exercício da vontade livre e do desejo, experimentados em cada momento da existência. A vida é sempre fruto de escolhas singulares em todos os tempos. Ela flui em um crescendo de renovações, a cada alternativa que se experimenta. E ainda que as escolhas impliquem “erro existencial”, algo foi estabelecido, feito e modificado.

Esta, talvez, seja uma das mais importantes questões da existência humana: a escolha e seus efeitos, a opção e suas consequências. De modo geral, todas as dificuldades a serem enfrentadas na existência, a escalada da violência e da insegurança, a corrupção, as doenças, as questões financeiras, a fome, a ansiedade, a depressão e tudo o que se mistura no caldeirão do sofrimento humano são frutos de escolhas individuais e coletivas equivocadas, fundamentadas em valores calcados no individualismo e na intolerância.

O sofrimento psicológico também se inscreve nessa categoria. A dor moral é igualmente gerada pela escolha individual. Perdido em interesses particulares, o ser humano esquece que escolha tem estreita relação com senso crítico, discernimento, sensatez e capacidade de ser empático. Enquanto esses valores não forem desenvolvidos, as escolhas tenderão a produzir consequências prejudiciais no campo ampliado das relações humanas ou benéficas no campo restrito do egoísmo. Nesse caso, determinadas escolhas não ampliam possibilidades para o indivíduo, nem lhe abrem estradas para maior conforto do processo vivencial. Ao contrário, dificultam sua caminhada.

Viver é criar e evoluir; crescer. Criação e evolução só acontecem em processos em que escolhas adequadas estejam presentes. Fora disso, é estagnação.

Sabe-se que todo crescimento é uma mudança e, por isso, traz alguma dor. A espécie humana ainda não encontrou caminhos evolutivos totalmente isentos de dor. Assim, crescer dói, e escolher também dói. Mas, não escolher é estagnar, o que resulta em sofrimento.

A cultura humana, de modo geral, parece levar à ideia de certa obrigação moral e de compulsoriedade evolutiva inerente à nossa espécie, em razão de um presumido determinismo biológico, da ênfase filosófica presente em diversas culturas e de conhecimentos espirituais, ancestrais e contemporâneos.

Em muitos, há mesmo uma premência em evoluir. Esquecem que tudo tem o seu tempo, o seu momento. Para evoluir, é preciso investir capital emocional. A evolução só se consegue com o conhecimento de si mesmo, quando entendemos como funcionamos e porque fazemos as escolhas que fazemos.

Na verdade, não deve haver urgência, para que o processo não se torne fonte de ansiedade e angústia. Todavia, é preciso colocar-se a caminho. É preciso tornar-se forte para fazer as escolhas ainda necessárias, mais consentâneas com o projeto de vida adotado. Isso deve ser feito sem medo da dor e sim com a expectativa de contentamento pelo novo. Nem toda dor deve ser razão de sofrimento. Como já ensinaram os mestres, a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.

* José Carlos de Sousa é psicólogo, especialista em Psicologia Clínica, Terapia EMDR, Terapia Cognitivo-comportamental, Gestalt-Terapia, Psicossomática, Hipnose Clínica, TFT, EFT e em Transtornos Alimentares. É colunista e membro do Conselho Editorial da TV PSI.

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