Ao iniciar sua terapia, Laura me disse estar sempre muito magoada, pois estava doente e as pessoas não faziam por ela o que deveriam fazer. Com o diagnóstico de depressão, iniciara o tratamento com uma psiquiatra, apesar de detestar tomar remédios. Isso a fazia sentir-se incapaz. Ela imaginava que deveria ter forças para combater os sintomas dolorosos. Teria essa força, se tivesse a ajuda do marido e dos pais. Mas, essa ajuda não acontecia.
Laura reconheceu que sua mágoa era crônica. Desde a juventude costumava ruminar a respeito de que ninguém percebia suas necessidades. Sempre insegura, queria que os pais definissem caminhos para ela, mas relutava em aceitar as sugestões recebidas. Com baixa autoestima, desqualificava a fala de amigos, por julgar seus “conselhos” superficiais e só serem dados para se livrarem dela rapidamente.
Não demorou para o sentimento de não ser importante ─ “Sou ‘desimportante’, sempre fui”, ela dizia ─ e o de rejeição se refletirem em outros aspectos da sua vida, muitas vezes fazendo-a questionar a validade de viver.
São muitas as razões que levam alguém a desenvolver, desde muito cedo na vida, um sentimento de desvalia. O mais danoso desse processo é a pessoa acolher esse sentimento e colocá-lo como orientador da percepção a respeito de si e da vida. A pessoa não se reconhece menos importante só para o outro, mas, principal e perigosamente, para si mesma. E aí abre as portas para uma infinidade de desconfortos emocionais, os quais pouco a pouco se transformam em doença mental, como os transtornos ansiosos e a depressão.
Infelizmente, não somos educados para a valorização de nós mesmos. Os pais e o sistema educacional costumam focar a avaliação do indivíduo no negativo, no que deve ser corrigido e superado e não nas potencialidades do indivíduo. A frequente indicação de falhas e erros acabam por distorcer a autoimagem e a criar uma dependência do outro, que sempre será o quem definirá o que é certo e o que deve ser feito.
Há muitas maneiras de trabalhar terapeuticamente essa questão. Contudo, o resultado de qualquer intervenção dependerá sempre do quanto a pessoa compreenda a responsabilidade individual sobre o seu próprio processo. Além disso, é importante ver o outro como outra individualidade e não um coadjuvante do seu existir, um “resolvedor” de seus problemas. Resolver os próprios problemas é função de cada um, do que vive o problema, e de ninguém mais. Não que a ajuda o outro não tenha importância. Ela é importante, mas no sentido de dar suporte para o indivíduo assumir a responsabilidade de se conhecer e se transformar. A mudança só é possível se arquitetada pelas próprias mãos.
Ninguém muda ninguém. Todos sabemos disso. Mas, toda ajuda é bem-vinda. Nesse processo, quando for o caso, cabe às terapias enfatizar a responsabilidade pessoal, fornecer instrumentos para facilitar o exercício dela, e estimular o resgate da autoestima e o reconhecimento dos valores próprios. A tarefa urgente é abrir os olhos para o autocuidado, para fazer por si o que precise ser feito.
Laura não levou muito tempo para compreender isso e minimizar seus sintomas depressivos, substituindo a frase “Ninguém faz nada por mim” pela compreensão e interesse em conhecer suas necessidades reais e trabalhar ela mesma no sentido de atendê-las.
Lembre-se disso.
Faça por você exatamente o que gostaria que os outros fizessem por você!