Por George Woyames, LCSW *
Recentemente, um amigo enviou-me um link de matéria publicada no jornal Estado de São Paulo, sobre a importância de etnia e gênero na busca de apoio psicológico, escrito por Julia Bela Trindade. Confesso que não li o artigo, bloqueado a não assinantes. Todavia, como assistente social e professional de saúde mental, radicado nos Estados Unidos há 52 anos, tive a honra de servir dezenas de compatriotas brasileiros e outros falantes de português, majoritariamente clientes de hospitais, postos de saúde municipais e prisões.
De acordo com o censo de 2020, latinos representam 15.1 por cento da população de minha cidade, San Francisco. Claudia Guedes, Ph.D., em Soul Brazil Magazine, descrevendo a presença brasileira em San Francisco, com dados fornecidos pelo Consulado Geral do Brasil em San Francisco, revela que aproximadamente 5.000 brasileiros vivem na cidade: ou seja, um terço dos 15 mil compatriotas radicados na área da baia de San Francisco e San Jose.
Embora a cultura luso-brasileira nos dê um identidade supranacional, imigrantes brasileiros e portugueses representam populações com estilos de vidas distintos, em faixas etárias, econômicas, gêneros, preferenciais sexuais ou religiosas. Para terapeutas, ainda que falantes de português, familiaridade com as diferenças é essencial ao enquadramento dos novos imigrantes na sociedade dominante, por sua vez portadora de uma rica história de racismo e preconceitos contra recém-chegados, especialmente não brancos.
Muitos brasileiros, especialmente professionais bem-sucedidos, têm a sua disposição, nos Estados Unidos, compatriotas psicólogos e outros provedores de saúde mental, com escritórios particulares. Mas, a maioria dos novos imigrantes enfrenta crises de sobrevivência, inclusive exploração econômica, às vezes abuso sexual, violências físicas e mentais. Clientes destes grupos requerem encaminhamentos a fontes de emprego, alimentação, moradia, e assistência legal. Satisfazer tais necessidades de “cama e mesa” no Brasil ou “bread and butter” nos Estados Unidos, ajudam estes clientes a permanecer em terapia, desenvolver auto estima e, gradualmente, adaptarem-se ao novo país.
Diásporas de imigrantes de cultura luso-brasileira, vivendo em comunidades economicamente desfavorecidas por todo o mundo, devem enfrentar, diariamente, contatos com sociedades dominantes, enquanto tentam preservar valores étnicos e culturais dos paises natais. O processo apresenta problemas específicos para professionais de saúde, física ou mental, servindo às comunidades: a) indivíduos e famílias imigrantes buscam permanecer unidos contra racismo e discriminações sociais. Auxiliar clientes a navegar em sistemas hostis e buscar soluções satisfatórias deve ser um dos objetivos principais do terapeuta; b) terapeutas devem examinar seus próprios estereótipos e conceitos sobre imigrantes latinos, falantes de português, espanhol, ou dialetos indígenas, inclusive quanto a informacões errôneas sobre relações de gêneros; c) é importante que o terapeuta compreenda que os imigrantes da diáspora luso-brasileira, pobres ou ricos, têm o poder de escolher entre os valores das culturas dominantes aqueles aos quais se adaptar, ou criar novos valores, híbridos, com os quais contribuir ao novo país.
* George Woyames, jornalista e assistente social, é Coordenador do Núcleo de Mobilização Social da TV PSI.
