A afirmação consta do resultado de estudo realizado entre estudantes universitários na França, divulgado na última quinta-feira pela Sala de Imprensa do Inserm, instituto público francês dedicado à pesquisa médica e biológica sobre a saúde da população, em conjunto com a Universidade de Bordeaux.
Segundo a publicação, mais da metade dos estudantes na França têm distúrbios do sono. Estas alterações são tanto mais preocupantes quanto podem ter consequências no sucesso dos seus estudos, bem como na sua saúde física e mental.
A avaliação desses riscos à saúde é um dos objetos de pesquisa de uma equipe de cientistas do Inserm, da Universidade e do CHU de Bordeaux. Em um novo estudo publicado na Psychiatry Research , eles analisaram especificamente o consumo de cannabis dos estudantes – quando sabemos que o consumo entre jovens de 18 a 25 anos é particularmente alto na França – e tentaram medir seus efeitos no sono.
O estudo, realizado com base na análise de dados de cerca de 14.787 alunos voluntários, demonstrou que o uso de cannabis aumentou o risco de ter sono perturbado, com uma duplicação da frequência de insônia entre os fumantes diários.
Constatou-se que 55% dos alunos tinham distúrbios do sono e 19% deles sofriam de insônia. Estas alterações do sono têm efeitos nefastos na saúde mental e física, comprometendo sobretudo as capacidades cognitivas dos estudantes.
Neste estudo, liderado por Christophe Tzourio, do Centro de Pesquisa em Saúde da População de Bordeaux, os alunos responderam a um autoquestionário online sobre a frequência do consumo de cannabis no último ano, por um lado (diariamente, semanalmente, mensalmente ou mais raramente/nunca), bem como sobre a qualidade do sono nos últimos três meses e, por outro lado, com uma pergunta específica sobre insônia.
Foram também formuladas outras questões referentes a suas características sociodemográficas, estilo de vida (por exemplo, consumo de álcool ou tabaco) ou mesmo a sua saúde mental, de forma a refinar a análise e evitar quaisquer vieses ou fatores de confusão.

De acordo com os “barômetros de saúde pública francesa”, analisados pela OFDT – Observatoire français des drogues et des tendences addictives, estudos anteriores indicam que nível de uso de cannabis na França é particularmente alto entre os jovens: 13,9% dos jovens de 18 a 25 anos relatam consumo mensal de cannabis e 4 % declaram utilizá-la diariamente.
Nas palavras do pesquisador Julien Coelho, primeiro autor do estudo, sua originalidade “reside no fato de termos acesso a uma amostra particularmente grande de estudantes que forneceram dados precisos sobre o consumo de maconha e a qualidade do sono. A riqueza de dados coletados por meio dos questionários fornece novas evidências da associação entre insônia e uso de cannabis.”
“Embora a causalidade não possa ser afirmada com certeza, esses resultados sugerem a importância de multiplicar as mensagens de saúde pública para realizar a prevenção com os alunos, mas também com os profissionais de saúde sobre os perigos do alto consumo de cannabis para a saúde dos jovens”, conclui Christophe Tzourio.
FONTE: Inserm – Communiqués et dossier de presse, em 23/02/2023