Nos últimos anos, tem-se observado um aumento significativo no interesse pela saúde mental dentro do ambiente educacional, tanto por parte da comunidade escolar, quanto das políticas públicas. Dentro desse contexto, o bem-estar socioemocional dos estudantes tem se tornado uma das prioridades centrais do Plano de Recuperação das Aprendizagens Escola+ 21|23. Paralelamente, diversos estudos têm sido conduzidos para compreender melhor as experiências de professores e alunos nesse âmbito.
Um exemplo disso é o estudo intitulado “Saúde Psicológica e bem-estar nas escolas Portuguesas”, realizado em junho de 2023 através de uma parceria entre o Ministério da Educação e diversas entidades. Esta pesquisa teve como objetivo principal avaliar a saúde mental no contexto escolar. Participaram do estudo 8.067 alunos, desde o pré-escolar até ao 12.º ano, juntamente com 1.453 educadores e professores, com idades variando entre os 22 e os 66 anos, provenientes de 27 agrupamentos escolares.
Os resultados revelaram que 20% das crianças e adolescentes entre os 5 e os 18 anos estavam em situação de risco de depressão e demonstravam insatisfação com a vida. Além disso, mais da metade dos alunos apresentava níveis baixos de bem-estar, sendo que o risco de depressão era três vezes maior entre as raparigas do que entre os rapazes.
No que diz respeito aos professores, o estudo apontou que a idade e o tempo de serviço se correlacionavam com sentimentos de mal-estar psicológico. Por outro lado, o apoio por parte da direção da escola mostrou ter um impacto positivo indireto sobre o bem-estar psicológico dos docentes, através do ambiente escolar.
As percepções dos professores sobre a sua saúde mental e o ambiente escolar muitas vezes são obtidas através de inquéritos realizados por organizações sindicais. Estes relatos têm contribuído para pintar um retrato de uma classe profissional desgastada, cansada e desmotivada.
A avaliação do ambiente escolar com foco na saúde mental tem sido uma parte importante dos esforços realizados por diversas organizações internacionais. Por exemplo, em 2015, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), conduzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), incluiu pela primeira vez a avaliação da felicidade dos alunos de 15 anos.
Os dados recolhidos revelaram que 59% dos alunos estavam sempre muito preocupados com a dificuldade dos testes, enquanto 66% estavam constantemente preocupados com as más notas. Pelo menos 55% dos alunos demonstravam elevados níveis de ansiedade antes dos testes, mesmo estando bem preparados.
Entre 2018 e 2022, período correspondente às duas últimas avaliações do PISA, a sensação de pertença dos alunos à escola variou, tanto melhorando quanto piorando, em proporções semelhantes entre os países e economias parceiras. No entanto, a sensação de ter menos oportunidades de formar laços estreitos na e com a escola permanece mais comum entre os alunos desfavorecidos em comparação aos favorecidos.
Um dos aspectos enfatizados pelo PISA 2022 foi a resiliência, entendida como a capacidade de recuperar e até crescer após adversidades. As evidências apresentadas neste relatório indicaram que os sistemas educativos mais resilientes foram capazes de reduzir mais rapidamente os impactos negativos na aprendizagem dos alunos.
Por trás dessas estatísticas, a OCDE reitera uma mensagem crucial aos governos: o sucesso acadêmico não deve ser alcançado à custa do bem-estar emocional dos principais atores envolvidos no sistema educacional.