Embora no mais das vezes o momento da gravidez propicie grande excitação e alegria, a natural expectativa e as preocupações que normalmente envolvem o período da gestação não raro desencadeiam quadros de ansiedade e estresse.
As diversas alterações físicas e emocionais enfrentadas pela mulher durate a gravidez e o pós-parto, somadas à vulnerabilidade psicológica que daí advém, criam ambiente favorável ao surgimento de patologias que podem afetar o desenvolvimento normal do bebé, podendo mesmo vir a comprometer sua capacidade cognitiva e social, dentre outros possíveis disturbios.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em média, um quinto das mulheres grávidas sofre algum grau de depressão.
Uma pesquisa realizada pelo Portal Mommis (grupo materno brasileiro apontado pelo Facebook como uma das 100 comunidades que mais impactam no mundo), com 364 mães entre 25 e 59 anos, constatou que 49,1% das entrevistadas diziam sentir-se em um limbo emocional, embora 80,9% declarassem não ter doença mental ou física diagnosticada, e apenas 9% afirmassem ter doença mental, como depressão e ansiedade; 25,9% informaram estar em psicoterapia.
Em artigo publicado no Livro Fertility, Pregnancy, and Wellness (Fertilidade, Gravidez e Bem-Estar) © 2022 Elsevier Inc, as pesquisadoras americanas Rita Kluny e Dana M. Dillard discorrem sobre o vínculo pré-natal, referindo que “O corpo humano é projetado para responder a formas agudas de estresse bioquimicamente, o que permite a resolução ou fuga de uma ameaça percebida. No entanto, quando um estressor é percebido como implacável, o sistema projetado para gerenciar os estressores pode ficar desregulado, resultando em inflamação sistêmica tóxica que se acredita contribuir para muitos estados de doença. Na gravidez, esse processo também pode afetar o ambiente uterino e o bebê em desenvolvimento, o que pode afetar a saúde e o bem-estar ao longo da vida do bebê. Em contraste com as ações de um estressor percebido, amor, conexão e apego resultam em uma cascata neuroendocrinológica promotora da saúde e redutora da ansiedade que não apenas auxilia no vínculo, mas também promove o bem-estar”.
Ultimamente, a prática do mindfulness por mulheres grávidas tem crescido substancialmente no mundo todo exatamente pelos inúmeros benefícios que proporciona, por sua facilidade e simplicidade, aumentando a serenidade e o bem-estar emocional geral da gestante.
Para além das vantagens do ponto de vista psíquico, vale lembrar as numerosas evidências científicas que comprovam resultados amplamente favoráveis em outras áreas, como por exemplo no controle das cardiopatias e no acompanhamento da pressão arterial. Neste contexto, cabe citar recente estudo, publicado na edição deste mês des fevereiro, no Journal of Psychosomatic Research, (Pesquisa Psicossomática) – Volume 165, acerca do efeito do mindfulness sobre os distúrbios hipertensivos da gravidez, intitulado “Viabilidade, aceitabilidade e efeitos preliminares do treinamento de atenção plena na pressão arterial pré-natal”.
Outra obra, também recentíssima, que merece destaque é a versão em castelhano do livro How to Have a Mindful Pregnancy and Birth: 30 Simple Ways to Connect to Your Baby (Como ter uma gravidez e parto conscientes: 30 maneiras simples de se conectar ao seu bebê) lançada ontem na Espanha, pela editora Planeta, com o título Mindfulness en el Embarazo (Mindfulness na Gravidez), da Dra. Sian Warriner, consultora de obstetrícia, mãe de quatro filhos e professora no Oxford Mindfulness Centre, da Universidade de Oxford.

O livro da Dra. Warriner, ainda não disponível em língua portuguesa, apresenta um conjunto de habilidades simples, mas extremamente poderosas, para propiciar uma “experiência emocional e de bem-estar durante a gravidez e o parto. Os 30 exercícios incluem: respiração consciente, visualizações, dicas de diário, práticas de percepção sensorial e muitas ferramentas simples e fáceis de dominar para ajudá-la a relaxar e se conectar com seu bebê durante a gravidez – e para ajudá-la a se preparar para o nascimento”.